Por Danival Dias*
Durante a minha adolescência eu já estudava a noite. Toda a minha turma do ginásio do Colégio Polivalente de Camaçari foi estudar o nível médio (naquela época, segundo grau) no José de Freitas Mascarenhas a tarde e eu, como precisava trabalhar e havia sido aprovado no processo seletivo para ‘Menor Aprendiz’ do Banco do Brasil, então com 15 anos, fui para o São Thomaz de Cantuária fazer o curso Técnico em Contabilidade, onde fiquei de 1992 à 1994. Lembro-me até hoje do meu primeiro dia de aula, nos fundos do colégio, em salas improvisadas, feitas de madeira e telhas de amianto, que os alunos veteranos apelidaram de ‘galinheiro’. Logo depois fomos transferidos para uma extensão do São Thomaz, no então recém-construído Colégio Normal de Camaçari, que ficava ao lado, onde permanecemos nos dois anos seguintes, até retornarmos para concluir o terceiro ano no próprio São Thomaz.
No primeiro ano do curso técnico, com apenas 15 anos de idade, me sentia deslocado no meio de colegas bem mais velhos do que eu, pois estava longe dos que haviam estudado todo o ginásio, mas para minha sorte, meu desconforto terminou com a chegada para estudar comigo, do meu vizinho de infância e amigo/irmão, graças a Deus até hoje, Joselito dos Anjos Miranda Júnior, que tem a mesma idade que eu. Com o tempo e já familiarizado com o ambiente até então estranho, adquiri calorosas e queridas amizades, algumas das quais também mantenho até hoje. Saíamos da aula às 22:00 horas, do centro em direção ao Ponto Certo sempre caminhando (sim, transporte em Camaçari desde essa época era difícil), sem medo e relativamente tranqüilos, pois a violência naquela época era muitíssimo menor do que a de hoje (sim, em Camaçari até bem pouco tempo era possível andar pelas ruas após as 22:00 horas!).
Nesse ponto da leitura, muitos devem estar se perguntando o que o título deste texto (‘Beber cair e levantar’) tem a ver com o que escrevi até agora, mas eu explico, é que recentemente numa ‘manifestação’ estudantil que passou pela frente do meu local de trabalho, no centro da cidade, vi estudantes secundaristas com 15, 16 anos, atrás de um carro de som gritando palavra de ordem, dançando, cantando e... CONSUMINDO BEBIDA ALCOOLICA! Muitos também fumavam cigarros e outros já se encontravam num estado que nem deveriam saber o porquê de estarem ali... Vendo aqueles jovens, literalmente se auto-destruindo, não teve como não fazer um paralelo com o tempo que eu tinha a idade deles e já trabalhava e estudava a noite, numa época em que a oferta de cursos, trabalhos e estágios em Camaçari era quase nenhuma; as poucas (inclusive a oportunidade que tive para fazer o teste para o Banco do Brasil no qual fui aprovado) eram viabilizadas pela Casa da Criança e do Adolescente ou pela Secretaria de Ação Social, onde fiz o inimaginável para os jovens de hoje, curso de datilografia!
Na minha época, eu e meus colegas, pelo menos os que eram da mesma faixa etária (dos 15 aos 17 anos), jamais faltamos a aula para irmos a um bar; também nunca levamos bebida ou qualquer outro tipo de droga para dentro da escola e para falar a verdade, a primeira vez que me lembro de ter ingerido álcool (cerveja) em ‘grandes proporções’ como a turma do colégio anda fazendo hoje, eu já era maior de idade e já havia sido aprovado em primeiro lugar para a única vaga para da minha função, no concurso público do órgão em que trabalho até hoje; tinha apenas 18 anos! Para muitos, a bebida alcoólica que é lícita, mas também é DROGA, acaba sendo o trampolim para a maconha, cocaína, êxtase, crack e todo tipo de porcaria cujo consumo e toda sujeira que envolve sua produção e venda (tráfico) dizima famílias, mata pessoas, ceifa oportunidades e alicerça o clima de violência e insegurança que vivemos hoje em todo o país.
Recentemente me chamou à atenção a organização por jovens, em sua maioria, de uma ‘marcha’, pedindo a liberação de determinado tipo de DROGA e pesquisando descobri que o tal movimento possui site na internet onde eles sugerem seus ideais e até vendem camisetas e adesivos. Confesso que vibrei com a decisão da justiça em proibir a realização do evento em Salvador e outras cidades do país, afinal, por que não usar todo esse ‘poder de mobilização’ realizando as tais ‘marchas’, por exemplo, ‘pela moralização na política’, ‘contra o desvio de recursos públicos’, ‘contra o nepotismo no serviço público’, ‘pela redução da carga tributária’, ‘contra a prostituição infantil’, ‘para arrecadação de donativos às Obras Assistenciais de Irmã Dulce’? Fica aqui a minha sugestão!
Camaçari agora dispõe de CETEB (escola técnica estadual), CEFET (escola técnica federal), SENAI (escola técnica mantida pela indústria), UNEB (universidade estadual), CIEE e ANIMA (centros de intermediação para a contratação de estagiários de nível médio e superior), bolsa auxílio universitária mantida pela prefeitura, Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) que dá acesso às bolsas de estudo do Governo Federal de até 100% do valor das mensalidades em faculdades particulares, além de ônibus gratuito para as faculdades de Salvador, Lauro de Freitas e Simões Filho (CEFET), entre tantas outras benesses que não existiam para os estudantes secundaristas de pouco mais de 14 anos atrás...
Infelizmente, mesmo com todas as oportunidades à mão, ainda há uma parcela considerável de jovens que ao invés de ESTUDAR e TRABALHAR, parafraseando o título uma musica infame, que a despeito das pérolas produzidas por Luiz Gonzaga dizem ser forró, preferem e acham certo, ‘Beber, cair e levantar’.
( * ) Danival Dias é acadêmico do curso de Bacharelado em Direito, servidor público concursado do Governo do Estado da Bahia desde 1997 e contador de ‘causos’ e ‘piadas repetidas’ entre os amigos nas horas vagas. É colunista do jornal Camaçari Notícias e publica suas histórias (e estórias) periodicamente em www.tabica.blogspot.com e http://tabica.blog.terra.com.br, e-mail: danival.dias@gmail.com, MSN: daniborozinho@hotmail.com
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