quarta-feira, 18 de junho de 2008


Por JÂNIO FERREIRA SOARES

Se Luiz Gonzaga fosse vivo, provavelmente estaria amuado em algum canto do sertão do Araripe, decepcionado com o que estão fazendo com o ritmo em que ele era o maioral. O forró, essa deliciosa levada nordestina que é a melodia perfeita para escoltar esses dias de ternas fogueiras, coloridos balões e estrangeiras garoas, está sendo brutalmente desfigurado por essas bandas movidas a dançarinas de pernas grossas e cantores robotizados, que usam o tripé “cachaça, rapariga e gaia” para iludir milhares de jovens de que forró é isso. Deveriam ser processados por atentado aos nossos ouvidos.
Recentemente, o jornalista e escritor José Teles, crítico musical do Jornal do Commercio, de Recife, fez um ótimo artigo sobre o tema. Entre outras coisas, ele diz que esse tipo de música está tão massificada na cabeça da meninada, que está criando uma perigosa cultura entre eles, na qual mulher é sempre safada e descartável, cachaça é pra beber até cair e carro não é apenas meio de transporte, mas lotação pra encher de raparigas. Ele prossegue dizendo que quando um cantor de uma banda chega a uma praça pública e pergunta se tem “rapariga na platéia”, alguma coisa está fora da ordem. E o que mais o preocupa é que essa juventude, que tem a cabeça feita por esse tipo de música (música?!), brevemente vai tomar as rédeas do poder.
Ele está coberto de razão.
Eu cresci numa geração que foi moldada musicalmente pelas ondas do rádio. De Orlando Silva até o novíssimo som que vinha de Liverpool, nada escapava ao bom e velho Transglobe Philco, que trazia até o sertão baiano todas as novidades sonoras que rolavam pelo mundo.
Mas era o forró que predominava, tanto nas emissoras quanto no serviço de auto-falante de dona Nenê, que só vivia tocando Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino e que tais.
E só a partir dos anos 70 foi que o forró de duplo sentido começou a fazer sucesso, quando canções como Passei a noite procurando tu e Ele tá de olho é na butique dela estouraram no meio da garotada. Mas, comparadas com as de hoje, elas soam quase infantis.
Sinceramente, não sei até que ponto a música ajuda na formação de um garoto, nem no seu jeito de ser. Mas sei que ela o acompanhará pelo resto da vida. Como agora, quando vez ou outra eu me pego assoviando velhas canções juninas, como aquela em que Gonzagão pede ao seu amor para olhar pro céu só pra ver como ele está lindo.
Já essa turma que abre a mala do carro e obriga toda a vizinhança a ouvir alguém berrando que vai beber, cair e levantar me deixa bastante preocupado.
Não só pela qualidade das canções que eles levarão consigo, mas, principalmente, porque muitos seguem à risca esse horrível refrão e, depois de beber todas, saem dirigindo loucamente pelas ruas, correndo o risco de bater, cair e nunca mais se levantar. Definitivamente, isso nunca foi forró. Muito menos o seu propósito.

Um comentário:

Unknown disse...

dqMuito bom este texto minha corrente!!! Sua cara mesmo.........