quarta-feira, 3 de setembro de 2008

PÁTRIA MADRASTA VIL

Onde já se viu tanto excesso de falta? Abundância de inexistência... Exagero de escassez... Contraditórios?? Então aí está! O novo nome do nosso país! Não pode haver sinônimo melhor para BRASIL.
Porque o Brasil nada mais é do que o excesso de falta de caráter, a abundância de inexistência de solidariedade, o exagero de escassez de responsabilidade.
O Brasil nada mais é do que uma combinação mal engendrada - e friamente sistematizada - de contradições.
Há quem diga que 'dos filhos deste solo és mãe gentil.', mas eu digo que não é gentil e, muito menos, mãe. Pela definição que eu conheço de MÃE, o Brasil está mais para madrasta vil.
A minha mãe não 'tapa o sol com a peneira'. Não me daria, por exemplo, um lugar na universidade sem ter-me dado uma bela formação básica.E mesmo há 200 anos atrás não me aboliria da escravidão se soubesse que me restaria a liberdade apenas para morrer de fome. Porque a minha mãe não iria querer me enganar, iludir. Ela me daria um verdadeiro Pacote que fosse efetivo na resolução do problema, e que contivesse educação + liberdade + igualdade. Ela sabe que de nada me adianta ter educação pela metade, ou tê-la aprisionada pela falta de oportunidade, pela falta de escolha, acorrentada pela minha voz-nada-ativa. A minha mãe sabe que eu só vou crescer se a minha educação gerar liberdade e esta, por fim, igualdade. Uma segue a outra... Sem nenhuma contradição!
É disso que o Brasil precisa: mudanças estruturais, revolucionárias, que quebrem esse sistema-esquema social montado; mudanças que não sejam hipócritas, mudanças que transformem! A mudança que nada muda é só mais uma contradição. Os governantes (às vezes) dão uns peixinhos, mas não ensinam a pescar. E a educação libertadora entra aí. O povo está tão paralisado pela ignorância que não sabe a que tem direito. Não aprendeu o que é ser cidadão.
Porém, ainda nos falta um fator fundamental para o alcance da igualdade: nossa participação efetiva; as mudanças dentro do corpo burocrático do Estado não modificam a estrutura. As classes média e alta - tão confortavelmente situadas na pirâmide social - terão que fazer mais do que reclamar (o que só serve mesmo para aliviar nossa culpa)... Mas estão elas preparadas para isso?
Eu acredito profundamente que só uma revolução estrutural, feita de dentro pra fora e que não exclua nada nem ninguém de seus efeitos, possa acabar com a pobreza e desigualdade no Brasil.
Afinal, de que serve um governo que não administra? De que serve uma mãe que não afaga? E, finalmente, de que serve um Homem que não se posiciona?
Talvez o sentido de nossa própria existência esteja ligado, justamente, a um posicionamento perante o mundo como um todo. Sem egoísmo. Cada um por todos...
Algumas perguntas, quando auto-indagadas, se tornam elucidativas. Pergunte-se: quero ser pobre no Brasil? Filho de uma mãe gentil ou de uma madrasta vil? Ser tratado como cidadão ou excluído? Como gente... Ou como bicho?

Premiada pela UNESCO, Clarice Zeitel, de 26 anos, estudante que termina faculdade de direito da UFRJ em julho, concorreu com outros 50 mil estudantes universitários. Ela acaba de voltar de Paris, onde recebeu um prêmio da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) por uma redação sobre 'Como vencer a pobreza e a desigualdade'.A redação de Clarice intitulada `Pátria Madrasta Vil´ foi incluída num livro, com outros cem textos selecionados no concurso. A publicação está disponível no site da Biblioteca Virtual da Unesco.

segunda-feira, 1 de setembro de 2008

Formatura: Tradição e Cultura da Capoeira Regional





Dia da formatura


Sempre sonhei com esse dia, mas confesso que a emoção foi muito maior. A formatura tem um significado especial para nós, praticantes da Luta Regional Baiana. Lemos e ouvimos histórias dos antigos mestres que colocaram o lenço de seda azul no pescoço e foram “abençoados” pelas mãos potentes do saudoso Mestre Bimba. Até que chegamos ao mesmo patamar imortal.

Eu, Crente, comecei dar os primeiros passos no mundo da capoeiragem no ano de 1999, levado por uma aluna do Mestre, que hoje não treina mais conosco, a Maluca.

Cheguei ao Grupo num momento difícil da minha vida. Estava desempregado, com um filho prestes a nascer e sem recursos. Ouvi da boca do meu Mestre apenas uma frase: “Você quer treinar? Então relaxe.” Ali ficou traçado meu caminho. Nos primeiro quatro anos, treinei como nunca havia feito em nenhuma outra modalidade. A dedicação era total. E Assim foi até o ano de 2003, quando, já morando em Camaçari, tive que abrir mão da freqüência dos treinos para me dedicar à faculdade de Administração.

Foram quatro anos de lutas internas incessantes. Os treinos e as rodas eram cada vez mais escassos, a vontade de jogar a toalha era real. Todavia, mais uma vez, ouvi a voz do meu Mestre me orientando: “Crente, você tem que desenvolver um trabalho”. E assim foi. Hoje entendo que esse trabalho me deu um novo fôlego, me fez agarrar as rédeas da minha malandragem e, agora, me deu a graduação de Formado.

As lutas continuam e creio que para todos aqueles que tentam dedicar o amor a nossa Capoeira, mas que precisam ganhar o pão cotidiano.

Nesses nove anos, tenho que agradecer a muita gente fora e dentro da Capoeira, fora e dentro do Porto, mas não posso deixar de agradecer especialmente ao homem que sempre soprou os caminhos certos que tive que trilhar até chegar aqui. Obrigado MESTRE CABELUDO!

Gostaria de lembrar de camaradas importantes, que ajudaram a construir o capoeirista Crente: Monitora Sereia (minha primeira aula. Não esqueço!), CMestre Guará, Monitor Bicudo, Monitor Macaco Emília, Formado Fodebrow, Professor Minhoca, Professor Veneno Maluco, Professor Castelo, Monitor Pisca Pisca, Instrutor Pescador, Corda verde Yansã. Lembro também dos camaradas de outras bandeiras: Formados Urubu, Moisés, Pé de Mola, CMestre Gavião (Filhos do São Francisco), Mestre Vando, CMestre Cabeça e Formando Macarrão (Discípulos de Mestre Petróleo), Mestre Jilvan e Professor Miro (Zumbi dos Palmares). Enfim, obrigado a todos!

Axé!

Salve,

Formado Crente

Gozo amado

Ama, por que o amor nos enche de esperança,
nos transforma, nos molda,
nos diz onde está o sol,
onde morar a felicidade...
Ama sempre e ama mais.
Ama a pessoa com zelo,
ama esse moço com esmero.
Dedica-se, torna-se sua gueixa.
Descansa em teus braços.
Entrega teu corpo e ama
Ama com furor
Goza, mas goza paro o mundo saber
Diz a ele: eu amo
Amo o homem, macho - instinto
Amo o homem, poesia - coração!

(Caio Cultura)