Caio Cultura: andanças e visagens: julho 2010

Dizer que o São João de Aporá está em plena decadência, é chover no molhado. Há muito tempo que os nossos jovens e governantes padecem de uma cegueira absurda. Tínhamos em nossas mãos a oportunidade de transformar a festa, outrora tradicional, num dos pontos altos do turismo aporaense.
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Turismo em Aporá? Questionariam-me logo. Claro que sim. Temos, como diz o ditado popular, “a faca e o queijo nas mãos”. Aporá está cercada de cidades que olhadas em frente a um espelho, refletem a mesmíssima imagem. Todas adotaram um modelo “moderno” – que em minha opinião está extremamente ultrapassado: palcos enormes e “bandas estilo gafanhoto”.
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Já explico: o que realmente uma banda como Aviões do Forró poderá contribuir para uma cidade? Um show de 2 horas, no máximo? Todas elas, na época do São João, buscam apenas um objetivo: maximizar os seus lucros. Notaram como nós, da capital, vemos os outdoors, um em cima do outro, anunciando as mesmas atrações em cidades diferentes? É óbvio, enchem os bolsos e partem para outros palcos, semelhante aos gafanhotos que comem tudo que é possível das plantações e nada deixam para trás.
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Bom, mas vamos retornar à Aporá. Na terrinha poderiam me dizer: “É... aqui não tem isso”. Todavia, também não tem nada! Tínhamos na mão uma festa caracterizada pela participação popular, de porta em porta. Tínhamos a alegria de poder receber os familiares, os amigos, os amigos dos amigos, os colegas dos amigos dos amigos. Era isso que fazia a fama do São João em Aporá. Atualmente nos limitamos a alguns grupos que a custa de um Casamento da Maria falido e descaracterizado, ou de uns ditos “churrascos tradicionais”, nos relegam a um nada no meio do caos. É latente o único intuito: lucro para alguns poucos.
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A desculpa de nos darem um 15 de agosto ao estilo gafanhoto – o que eles dizem ser bom! – é a melhor saída para uma entrada que já se foi.
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Aporá tem que se desprender dessa amarra política miserável. Sei que, infelizmente e contraditoriamente, esse desprendimento passa pelas ações do poder público. Como gestor que sou de formação e profissão, é necessário investir em ações que possibilitem novas oportunidades de sustentabilidade econômica no município. Isso desvincularia o povo, da esmola partidária. Mas isso não é interesse de quem está no poder, concordam?
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Vamos lá, não ficarei apenas na crítica. Nem você!
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O quem tem haver São João, tradição, bandas gafanhotos, cidades espelhos e turismo?
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Como disse anteriormente, temos o nosso diferencial. Fazemos um São João totalmente diferente das outras cidades circunvizinhas. É preciso resgatar isso. Poderíamos fazer vários dias de festa, focando a tradição do São João na roça, com o Casamento da Maria retornando às carroças, com o trio de forró sem som elétrico, de porta em porta, finalizando na praça, com a realização do casamento e a grande quadrilha junina composta pelo povo.
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É fácil, basta apenas vontade política e trabalho sério desses gestores armengados (ou de outros, 2012 vem ai!).
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Por exemplo, poderia ser trabalhado, durante o primeiro semestre, nas escolas municipais e estaduais, com a orientação dos nossos universitários, diversas ações de incentivo, tais como: concursos de quadrilhas, de melhor texto do casório, de melhor decoração, de melhor recepção nas casas. Tudo isso poderia ser apresentado e premiado nas noites da festa junina. Enfim, tem tantas outras coisas que poderiam ser feitas. Tanta parceria que poderia ser realizada. Envolveríamos, como antigamente, a comunidade, os comerciantes, todos unidos para tornar a festa grande e inesquecível. Incentivaríamos os nossos jovens a pesquisar sobre o tema e assim manteríamos a chama dessa fogueira sempre acesa. Quanto gastaríamos com isso? Não mais que um cachê de uma dessas bandas gafanhotos.
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Já o turismo. Imaginem todos aqueles que buscam um São João mais tranqüilo, mais voltado às tradições, mais familiar, tendo como opção: Aporá, Bahia? Quem de vocês não conhece ao menos uma pessoa que não prefira uma festa assim? É óbvio que precisaríamos de mais atrações para manter os nossos turistas em Aporá, durante a festa. E ai entra o nosso velho projeto da Lagoa. Esta, hoje, está totalmente abandonada. A revitalização é fundamental. A Lagoa do Aporá é o fôlego que falta à economia local. Sua utilização, de forma responsável e ecologicamente correta, poderia trazer tantos benefícios para o comércio, quanto para a auto-estima dos aporaenses. Isso é notório!
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Há tanta coisa a ser feita. Fico realmente indignado quando vejo o meu Aporá caindo na mesmice, no pão e circo de sempre, no cabresto promovido por uma gestão que aposta na falta de educação, na falta de memória, na falta de cidadania, na falta de cultura, na falta de sustentabilidade. Acorda, meu Aporá!
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O que escrevo aqui são só pincelas do que poderia ser efetivamente feito. Como gestor, óbvio, não posso mostrar o “pulo do gato”, estou aqui para assessorar profissionalmente e não para ser plagiado.
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Axé e paz para todos!
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Caio Marcel
Caio Cultura
Formado Crente
(os três são um só!)

* Caio Marcel Simões Souza é Administrador de Empresas, formado pela Faculdade Metropolitana de Camaçari. É formando em Capoeira Regional, pelo Grupo de Capoeira Regional Porto da Barra. Atua profissionalmente como Analista Administrativo, também é professor de Curso Técnico, além escrever entusiasmado sobre as estradas da vida e desenvolver um trabalho de inclusão social, utilizando a Capoeira, na comunidade do Parque das Mangabas, em Camaçari/BA, atuando fortemente na área de cultura popular, onde quer que ela esteja.