quarta-feira, 27 de agosto de 2008

De dentro para fora... Outro olhar

Essa paisagem fica na casa de uma amigo meu, próximo ao terreiro de Raimunda, em Aporá/BA... Outros olhares!

Arrumação

Josefina sai cá fora e vem vê
Olha os forro ramiado vai chuvê
Vai trimina riduzi toda criação
Das bandas de lá do ri gavião
Chiquera pra cá já ronca o truvão
Futuca a tuia, pega o catadô
Vamo planta feijão no pó
Futuca a tuia, pega o catadô
Vamo planta feijão no pó
Mãe purdença inda num cuieu o ai
O ai roxo dessa lavora tardã
Diligença pega panicum balai
Vai cum tua irmã, vai num pulo só
Vai cuiê o ai, o ai da tua avó
Lua nova sussarana vai passá
Sêda branca, na passada ela levô
Ponta d´unha, lua fina risca o céu
A onça prisunha, a cara de réu
O pai do chiquêro a gata comeu
Foi um trovejo c´ua zagaia só
Foi tanto sangue que dá dó
Os cigano já subiro bêra ri
É só danos, todo ano nunca vi
Paciênca, já num guento as pirsiguição
Já só caco véi nesse meu sertão
Tudo que juntei foi só pra ladrão

(Elomar Figueira de Melo)

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CAPOEIRA na Terra do “Monte Belo”

CAPOEIRA na Terra do “Monte Belo”


Após séculos vivendo na mais total marginalidade, a nossa arte-luta tornou-se, finalmente e merecidamente, patrimônio cultural do Brasil. Seus grandes ícones foram, sem sobra de dúvida, os saudosos Mestres Bimba (Capoeira Regional) e Pastinha (Capoeira Angola). Ambos nem em seus mais gloriosos sonhos puderam imaginar que a sua influência, perseverança e “vadiação” assumiriam um papel de destaque no cenário mundial. A capoeira é hoje o maior divulgador da língua portuguesa e da cultura brasileira em terras estrangeiras. Estima-se que mais de 130 países pratiquem a nossa arte. Todo o ritual, seja qual for a nação, é realizado na língua portuguesa. Em alguns Grupos, como é o caso do Porto da Barra, do qual faço parte, as maiores graduações estão condicionadas a vindas periódicas ao Brasil. O dendê está aqui!

Ainda existe um longo caminho a ser percorrido. Existe muita fragmentação de didática e ideologias. São várias as federações com objetivos e estruturas diferentes. O sistema de graduação varia conforme estas e por ai vai.

Em nossa terrinha, lembro-me bem quando ouvir falar dessa tal capoeira. Tinha entre 11 e 12 anos, morava com Vó Cantídia. Nos intervalos dos meus afazeres, juntava-me a Mauro – Sã –, Manezinho e o “Padeiro” (este nos dava aulas e só me recordo apelido). Treinávamos num sótão próximo à Pensão Cardoso, onde hoje se localiza um frigorífico. Por vezes também treinávamos com Abraão, e em outras, na nossa Lagoa. Ali tive, inclusive, o meu primeiríssimo contato com a capoeiragem. Após isso, só iria reencontrá-la 10 anos depois. Tempos bons!

Em 2003, já graduado do meu Grupo, reencontrei velhos amigos que, agora, tinham em comum a mesma paixão: a “Luta Baiana”. Moisés, Adelson, Pé de Mola, Mestre Jilvan, Professor Miro (esses dois últimos de Acajutiba), dentre outros poucos, experimentaram uma capoeira dura em todos os sentidos e no maior deles, no da falta de apoio público e privado. Mesmo assim, a capoeiragem nunca mostrou fraqueza em Aporá.

Com o apoio que conseguia dar a essa galera, ministrava as minhas aulas na beira da Lagoa para os camaradas. Participava dos eventos, palestrava, incentivava, descolava alguns abadás, fazíamos rodas improvisadas e assim seguimos.

Atualmente, já com a supervisão do CMestre Gavião (amigo maravilhoso!) e com o apoio de membros da comunidade, tais como Tonhão e Mônica, aqueles lutadores tornaram-se grandes capoeiristas, espalhando seus talentos entre mais de 60 alunos vindos dos mais distantes recantos aporaenses e da Sede.

Sinto-me realizado em fazer parte dessa história, pois acredito que aqui sim, temos que “investir” o nosso tempo, na preservação e propagação da nossa cultura.

A Capoeira é nosso amor!

Salve, minhas correntes.

Formando Crente
(Caio Marcel)




segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Política: voto de cultura

Mais um artigo brilhante de minha corrente Danival Dias*. Aproveitando o período sugestivo, cultura é política também!
Apesar de adorar política, estava reticente em tecer qualquer tipo de comentário sobre o próximo pleito municipal, mas não resisti, ainda mais depois de ter assistido (e rido muito) com a performance de alguns candidatos na propaganda eleitoral da TV.
Sem citar nomes é óbvio, vi que tem candidato artista, candidato chorão, candidato sujão (que polui a cidade com cartazes nos postes, com suas caras, na maioria das vezes não muito bonitas), candidato sem noção, candidato ‘vira-folha’ (que já apoiou A, mudou para B e agora apóia C), candidato rico, candidato milionário, candidato pobre, candidato miserável, candidato profissional em ser candidato (toda eleição se candidata e não ganha nunca), candidato ‘eu já fui’ (que um dia já ganhou, agora não consegue ganhar mais), candidato ‘já ganhei’, candidato ‘Lombardi’ (sei que existe, mas nunca vi) e por aí vai...
Confesso que estava curioso para ver como seria a primeira eleição municipal, após a modificação da lei eleitoral que proibiu durante a campanha a distribuição de brindes – camisas, bonés, canetas, bolas, bolsas e afins – e que proibiu também a realização de comícios com shows, os chamados ‘showmícios’. Particularmente acho que isso torna a campanha mais igualitária, pois, seria difícil para um candidato pequeno e sem recursos, competir num evento em número de pessoas com um candidato mais abastado, que trouxesse para seu comício um show da Ivete Sangalo, por exemplo.
Comício tem que ser local de exposição de metas e idéias, não de show de música. Se bem que quando eu era adolescente, ia para quase todos, independentemente de que partido fosse, claro que como 80% dos presentes, muito mais por causa da banda ia tocar após a falação, do que pelos candidatos propriamente ditos. Naquela época eu ainda não tinha noção do quão importante era guardar as promessas dos candidatos, para poder cobrá-los depois a sua realização.
Livramos-nos também dos outdoors com os sorrisos amarelos, mas as mudanças na lei eleitoral poderiam abranger também a proibição dos barulhentos carros de som (trabalho no centro da cidade e é impossível atender ao telefone quando os carros inventam de passar, as dúzias, pela porta da repartição). É sempre muito difícil contar com o bom senso dos condutores e quase sempre eles passam dos limites. Recentemente participando de uma seleção pública numa manhã de domingo, contei nada menos do que nove carros de som atrapalhando a concentração dos que faziam prova junto comigo! E quem trabalha de turno e é acordado? E quem está hospitalizado?
Em Camaçari existe até bicicleta, triciclo e moto de som, todas com aquelas musiquinhas e paródias de gostos e composições duvidosas, algumas no estilo ‘lavagem cerebral’, anunciando os números e as ‘boas novas’ dos postulantes aos cargos de vereador e prefeito. Tem ainda toda a poluição visual causada pelas pichações nos muros da cidade e que quando passa o período eleitoral, ninguém lembra de apagar seus nomes e números dos muros alheios, principalmente se tiver perdido a eleição...
Alguns candidatos andam me importunando até em casa, por minha caixa de correspondência. Até antes do período de propaganda eleitoral, já que ninguém mais escreve cartas uns para os outros, tudo agora é e-mail, as únicas correspondências que eu recebia eram os boletos de cobrança do banco e as contas de água, energia elétrica, telefone, IPVA e IPTU; mas agora, minhas contas têm que disputar espaço dentro da caixinha com os ‘santinhos’ dos candidatos!
Será mesmo que o indivíduo acha que vou votar nele por que cheguei do trabalho cansado e encontrei a sua cara estampada num papel colorido jogado dentro de minha caixa do correio, com um número abaixo e os dizeres ‘VOTE EM MIM’? Esquecem-se eles que estamos nos tornando mais criteriosos, que o controle social está aumentando e a consciência de que SOMOS NÓS QUE MANDAMOS também!
(*) Danival Dias é acadêmico do curso de Bacharelado em Direito, do curso de Licenciatura em Letras, servidor público concursado do Governo do Estado da Bahia desde 1997 e contador de ‘causos’ e ‘piadas repetidas’ entre os amigos nas horas vagas. É colunista do jornal Camaçari Notícias e publica suas histórias (e estórias) periodicamente em www.tabica.blogspot.com. E-MAIL: danival.dias@gmail.com, MSN: daniborozinho@hotmail.com

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

Nota de Esclarecimento...

Meus confrades, este blog tem, como uma de suas premissas, enaltecer as virtudes culturais do nosso povo e contribuir para o seu crescimento. E assim será sempre!

Com reação ao artigo publicado no dia 20/08, gostaria de esclarecer que, constitucionalmente, o direito à expressão nos é assegurada e o considero um dos maiores bens doados por uma sociedade democrática.

Recebi um retorno inesperado, de uma pessoa que se julgou referenciada e, por conseqüência, ofendida. Gostaria de ratificar para essa pessoa o que disse ontem, a intenção nunca foi essa, mesmo porque o artigo aborda outras questões (de muito maior importância) e até de forma branda e suave, sem agressões ou rasuras (tão comuns nesse período eleitoral).

Ainda gostaria de esclarecer aqui, pois quando do retorno dado os ânimos não me deixaram, que a referência “aos pneus de última geração” era dada à última geração mesmo. Tratava-se de uma Caminhonete HILUX, cor branca e placa do lugar onde moro que estava dando voltas na cidade, na noite do último sábado. Isso fez refletir em mim e em outras pessoas que estavam presentes (que bom que as pessoas estão refletindo) alguns pensamentos e deles surgiram algumas idéias. Por tanto, senhora, creio que o fervor a deva ter cegado, pois a relação do amor e do pneu, era o de amarmos a nossa gente e não àqueles que vêm de fora, com seus carrões, com sua grana e nada fazem para contribuir ao menos um pouco. A carapuça foi para essas pessoas. Se você se sente assim é uma pena, pois sempre acreditei no contrário.

De minha parte, pelo que a senhora me disse, devo repetir: só lamento! O artigo tem como propósito uma reflexão muito maior que o meu, o seu ou o umbigo de quem quer que seja. Mais uma vez lamento por você ter enxergado dessa forma.

Cordiais saudações aos meus leitores.

Caio Cultura
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quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Visagens é também agir

APORÁ – ELEIÇÕES 2008 – 50 anos, qual o presente? O que será do futuro?


Por Caio Cultura*

Sou eleitor (ainda não de Aporá), mas, como assíduo visitante e, principalmente, voz e braço ativo na colaboração para um Aporá melhor, com atuação no campo cultural, me sinto extremamente confortável em expor, para os leitores do nosso blog, a MINHA opinião sobre o pleito eletivo deste ano. Este comentário não apresentará nomes, nem siglas, para que sejamos éticos.

Em recente e rápida conversa com uma prima minha, fervorosa militante da atual gestão, pude meditar sobre há quantas andas a nossa velha e boa terrinha.

Política em Aporá é sempre motivo para divisão, calorosas discussões e infantis contendas. Sejamos sinceros, não seria a melhoria das condições básicas de sobrevivência, desenvolvimento, educação, cultura e afins a nossa real e definitiva bandeira política? Olhando por esse prisma, e ouvindo a frase “o município é pobre”, me pergunto, é mais fácil operacionalizar, ou seja, manter a “coisa” funcionando, ou gerir de forma empreendedora uma cidade? Ora, como “turista”, sinto um nó na garganta quanto visito a minha Lagoa, por exemplo. Será que é possível transforma-la num marco turístico, point cultural, centro de lazer e referência para a micro região? Será que isso tem haver com a cidade ser pobrezinha? Ou será que é simplesmente ingerência pública? E a nossa cultura e esporte? Existe realmente um suporte público que possibilite o desenvolvimento de novos talentos, ou teremos que viver à sobra de um restaurador, ou de um jogador de futebol? A educação deve se limitar à abertura dos portões? E as mentes, não devem ser abertas? São muitas as perguntas e sabemos (principalmente os que experimentam esse amargo gosto cotidianamente) que em nosso mais intimo ser, temos todas as respostas.

Sentar-se à mesa apenas repartindo o bolo “verbal” não é uma tarefa nova. O contrário, Aporá passa por 50 anos de estagnação e, em alguns casos, retrocesso em seus mais diversos indicadores. Seus gestores, ao longo desses anos, permanecem ainda com velhos hábitos.

O gestor público não pode – nem deve – se limitar a administrar os recursos que, por força de lei, são destinados ao município. É necessário empreender, criar novas oportunidades de renda para a população e novas fontes de recurso para a cidade. Mais ainda, é preciso desenvolver novas possibilidades de crescimento, dar ao povo o conhecimento e a ferramenta para que este descubra suas potencialidades e saia da sombra desse guarda-chuva vicioso das nomeações convenientes e jogos políticos.

Se não observamos transformações consistentes e nos é dito que não se tem dinheiro para fazê-lo, algo está muito errado. É preciso mudar! E como sempre repito, se após a mudança a casa torna-se a mesma, muda-se novamente – afinal o mundo é cíclico. Seja A, B, C, ou direita, ou esquerda, ou centro, ou de lado, não importa, a renovação nos traz esperança. Temos que acertar, pois mais valerá a mobilização consciente que a atitude estanque tão adorada por uma meia dúzia de políticos que fazem sua gestão à moda antiga.

A mudança ou continuidade, aporaenses, exige muito mais que ser amigo de tal, parente de fulano, comadre de cicrano. Para que escolhamos os nossos representantes, carece que conheçamos a fundo não apenas a vida pública dos que se propõe a administrar uma cidade, mas que saibamos, assim como numa relação íntima, quais são os seus verdadeiros sentimentos. Sim, amigos, sentimentos! A paixão e o amor podem fazer a diferença. Duvidam?

Quem tem paixão move os obstáculos, quem ama cuida, preserva, faz desenvolver. Quem não é preparado, se prepara. Que não sabe como fazer, procura aprender, quem encontra poucos recursos, multiplica-os. Quem enxerga a situação, não apenas enxerga, mas age de alguma forma.

50 anos, hein Aporá! Podemos te dar os parabéns? Claro que sim, estamos aprendendo ainda. Tu és uma jovem senhora, entrando na melhor idade. Podemos te dar os parabéns por nunca ter desistido, por acreditar que sempre poderemos mudar, que podemos crescer juntos, trazendo, quem sabe, seus filhos de volta ao seu seio materno. Sonho? Sonharemos então juntos, Aporá querido, pois o poeta** nos ensina que este sonho, sonhado em conjunto não é apenas um sonho e sim uma realidade.

Minhas correntes aporaenses, em outubro teremos a oportunidade de escolhermos o que seremos nos próximos quatro anos. Observem, com os olhos do coração e a razão do conhecimento, “leiam” como anda a educação, “joguem” como está o esporte, “assistam” como está a cultura, “curtam” uma tarde de lazer, “namorem” sob a luz da lua e a brisa suave da Lagoa e, por fim, ame a nossa gente, não aquelas que pisam em nosso chão com seus belos pares de pneus última geração, mas aqueles que estão nos mais recantados vilarejos aporaenses esperando que este tal progresso chegue e os façam verdadeiros cidadãos.

Até outubro, minha gente! Pois estarei esperando vocês em 2012.

Salve!

Disponível em: www.apora-ba.blogspot.com


* Caio Marcel Simões Souza é Administrador de Empresas, formado pela Faculdade Metropolitana de Camaçari. É formando em Capoeira Regional, pelo Grupo de Capoeira Regional Porto da Barra. Atua profissionalmente, como técnico administrativo, no SENAI - Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial, Unidade Cetind, em Lauro de Freitas/BA e desenvolve um trabalho de inclusão social, utilizando a capoeira, na comunidade do Parque das Mangabas, em Camaçari/BA, além de atuar fortemente na área de cultura popular, onde quer que ela esteja.


** Raul Seixas